sábado, 8 de setembro de 2012

Num pós férias algo agitado e sem tempo, decidi partilhar uma conversa com o meu amigo imaginário.

Sim, tenho quase 50 anos e tenho um amigo imaginário que ainda por cima é estupido ou lento sei lá.

É estranho, eu sei, mas partilho.


AS LETRAS


- Estás drogado?
- Só um bocado.
- É que não estas a articular
- É isso, é a mesma coisa.
- Como é a mesma coisa.
- Nunca ouviste dizer a alguém que deixa cair um copo e ele se parte…
- O quê?
- Que só se perdeu o feitio.
- Ái!!!
- É verdade, o material está lá todo, mas já não é um copo.
- Pois, é um caco.
- As letras são a mesma coisa.
- Estão lá todas.
 - Todinhas, com assentos e pontos e vírgulas e tudo.
- Que interessa, não posso beber por um copo em cacos.
- Aprende a escrever
- Eu sei escrever!
- Então aprende a gozar as palavras.
- Estás mesmo drogado!
- Basta juntar duas letras.
- Grande palavra!
-Achas que não?
- Só com duas letras?
-  “Ai”,  “Ui”. “Só”.
- É lixado estar sozinho.
- Ora viste, apenas duas letras.
- Já estiveste sozinho?
- Isso não vem ao caso agora, estamos a falar das letras e das palavras.
- Pensei que era do copo e dos cacos.
- Era só um exemplo, ok!!
- Já estiveste sozinho?
- Tenho um amigo imaginário
- Pois já sei, que é lento.
 - Ou estúpido, sei lá.
- Eu não sou estúpido!
 - Está bem… lento.
- E agora até tenho de te aturar drogado.
- Esquece isso. As letras e as palavras são belas.
- Não estou a ver a beleza dos cacos.
- Estúpido.
- Agora estás a desconversar.
- Não sei para que quero um amigo como tu
-Lembraste das duas letras?
- Lento. Afinal percebeste.
- Tem cuidado com o copo, está bem.

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